sexta-feira, 5 de março de 2010

A ARQUITETURA GLOBAL DA CHARGE.

Tendo em vista ser a charge um tipo de texto discursivo, sua estrutura geral consistirá em elmentos textuais. A charge retirada para análise, não possui elementos pré-textuais (elementos que antecedem ao texto), possui caráter informal, o que facilita a compreensão da leitura e interpretação. A charge vem se solidificando como uma relevante ferramenta de difusão cultural e de formação educacional para pessoas de diferentes faixas etárias, interagindo a linguagem escrita e visual. Existem as charges convencionais que têm como suporte o jornal, e as charges atuais que são publicadas em meio eletrônico. Essas últimas parecem aproximar-se mais do público jovem por apresentarem um gênero textual leve e agradável. Dito isso, analisaremos alguns recursos encontrados na tira da charge de Mafalda.
Percebe-se que os elementos textuais da charge representam a essência do texto global, pois são responsáveis pelos propósitos comunicativos principais. Ou seja, através da fala de Susanita no 2º e 3º quadro, a charge passa ao leitor a mensagem, que cabe a esse, entender da forma que lhe convêm. A fala de Susanita expressa a realidade de maneira simples, fazendo o leitor perceber que existem regras que não podem ser desobedecidas. Utilizando-se de poderes da sociedade como polícia e cultura, a charge desperta ao leitor interesse em análise discursiva e crítica. O enunciado contendo o propósito comunicativo, constitui a verdadeira mensagem permitindo o entendimento da mensagem pelo receptor.
Os enunciados da charge estabelecem uma relação dialógica, pois, como nos aponta Bakhtin (1988), os enunciados são dialógicos e, portanto, o dialogismo constitui o diálogo. Desse modo, a charge leva os leitores a estabelecer o sentido das enunciações nas relações dialógicas, tornando esses leitores competentes, críticos, capazes de trnasformar e modificar a realidade em que se inserem.
No que se refere aos elementos paralinguísticos, observa-se a existência de imagens, cores, figuras, há um projeto gráfico que disponibiliza os elementos no espaço discursivo e de elementos verbais que se articulam com as sequências visuais. Os elementos verbais e visuais não podem ser separados quando se pretende entender o sentido expresso por esse enunciado concreto. Já no que se refere aos elementos pós-textuais, na charge analisada não existem elementos após o texto.
Os elementos no texto são essenciais no sentido de fornecer ao leitor uma mensagem com sentido, coerência e coesão. Um texto para ser entendido deve conter de forma adequada todos os elementos ncessários à concretização da mensagem. Por fim, fazendo um estudo do gênero discursivo Charge, é possível entender facilmente a mensagem, desde que o leitor tenha um caráter opinativo e crítico.

quinta-feira, 4 de março de 2010

ANÁLISE DA CHARGE, NO TOCANTE, AO INTERACIONISMO SOCIODISCURSIVO.

O Interacionismo sociodiscursivo é um quadro teórico que entende as condutas humanas como "ações situadas cujas propriedades estruturais e funcionais são, antes de mais nada, um produto da socialização." (BRONCKART, 1997, p.13).
O social é constituído e mediado por ações verbais, compreendendo um conjunto de valores, conceitos, objetivos e um conhecimento de si e dos outros.
A charge é um tipo de gênero discursivo, que se associa ao Interacionismo Sociodiscursivo, permitindo trocas de informações entre os membros da sociedade. Nas charges, assim como em outros gêneros, observa-se a existência de um estilo próprio. A presença de ideologias no exercício discursivo e o uso da linguagem verbal e não-verbal nas charges, auxiliam no efeito metafórico produzido no discurso e são analisadas enquanto manifestação discursiva.


Tira 1



Com base na tira da charge, pode-se perceber a utilização da língua na forma simples e clara, possibilitando a concretização da mensagem pelos membros de uma comunidade sociodiscursiva. A charge utiliza recursos que estimula o receptor, levando-o à reflexão e desenvolvendo a criticidade.
Antes de fazermos uma abordagem da tiragem, é interessante descrevermos o perfil das personagens. Susanita é o tipo da mulher burguesa que está sempre fora da realidade, busca não se envolver com os problemas do mundo e prende-se às aparências. Já Mafalda, é uma menina de opnião, sonhadora, contestadora, com uma visão bastante crítica da realidade. Ela é a porta-voz de todas aquelas questões que os leitores de suas tiras gostariam de ter a coragem de colocar para o mundo, mas que nem sempre conseguem fazê-lo. Enquanto Mafalda personifica a mulher liberada que busca se colocar em pé de igualdade em relação ao sexo oposto, Susanita é a visão tradicional do papel da mulher na sociedade, o que ocasiona frequente atrito entre as duas meninas.
Com base no conceito do Interacionismo e na leitura da tira, percebe-se que há uma interação entre o discurso da protagonista com a realidade vivenciada na nossa sociedade. No 1º quadro, há uma apresentação de desejos, onde Susanita, uma menina vaidosa, que preocupa-se muito com a sua aparência, quer algo fútil em relação ao desejo de Mafalda. Nos 2º e 3º quadros, Susanita fala de uma forma que passa a verdadeira imagem da sociedade. Tenta passar para Mafalda que o ser humano sem vestimentas é condenado mais do que o indivíduo sem cultura. Se analisarmos, é realmente isso que ocorre. Não podemos ir de contra as leis estabelecidas pelo ambiente que nos rodeia.
O indivíduo desde o início de sua vida, possui valores e princípios intrísecos a sua personalidade. Outros valores, conceitos e interesses são adquiridos pelo meio que se vive. Esse meio apresenta regras e normas que devem ser cumpridas.
No momento em que Susanita pergunta e afirma a Mafalda que mesmo ela saindo sem cultura, a polícia não a prende, o aspecto dito acima é evidenciado. Ou seja, a polícia funcionando como um dos instrumentos de força coercitiva necessária a manutenção da ordem na sociedade, inibe o indivíduo a desobedecer às regras. Já para Mafalda, é necessário ter Cultura pois, é um conjunto de práticas e ações sociais que permeiam e identificam a sociedade. Porém, a polícia não prende o ser sem Cultura e sem conhecimento.
A realidade que nos rodeia apresenta pessoas que não estão tendo comportamento adequado ao padrão fixado pelo meio social. Infelizmente, as pessoas vêm se desvirtuando da Cultura própria do meio.
Por fim, relacionando a charge com o Interacionismo, a interação sociodiscursiva somente se efetiva quando a comunicação entre os membros da comunidade sociodiscursiva se realiza e a mensagem é entendida.

quarta-feira, 3 de março de 2010

ANÁLISE DAS TIRAS DE MAFALDA A PARTIR DAS LEIS DE GRICE.


As leis de Grice funcionam como normas a serem seguidas pelos interlocutores a fim de tornar compreensível jogo verbal.
Para Grice (filósofo americano) ,o destinatário deve supor que o produto do enunciado respeita certas regras do jogo: por exemplo,que o enunciado é sério,que foi produzido com a intenção de comunicar algo que diz respeito a aqueles a quem é dirigido.
As leis de Grice são: A lei da Pertinência, A lei da Sinceridade, A lei da Informatividade, A lei da Exaustividade.
Com base nos estudos da Leis de Grice, são analisados, então, aspectos da textualidade capazes de contribuir de maneira relevante à analise de textos dialogais.
Obseva-se as duas seguintes tiras:


Tira 1




Tira 2
Na tira 1, Mafalda indaga sua mãe sobre os planos que ela tinha quando criança e interrompe seu questionamento, pois já sabe a resposta. Na verdade, a resposta aparece no quadro três, ao ver a mãe como uma perfeita dona de casa. É interessante observar que a fisionomia da menina muda ao longo dos quadros. No primeiro quadro, ela aparece pensativa; no segundo quadro aparece satisfeita, e no último quadro, a expressão dela é de tristeza, pois sabe que sua mãe é e, provavelmente, sempre almejou ser apenas uma dona de casa. Mafalda esperava que sua mãe tivesse outras ambições, como ter diploma universitário, ou então, trabalhar fora.

O desfecho inesperado é o que provoca o efeito de humor nessa tira, já que a garota muda o que pretendia falar, e o leitor tem que inferir que ela mudou o foco do assunto porque já tinha desco-berto a resposta da pergunta do quadro 1.

A intenção dos três primeiros quadros, da segunda tira, é deixar no leitor o efeito de espanto, já que esses quadros causam um estranhamento em quem conhece a personagem, pois como é de conhecimento dos leitores das tiras, Mafalda não quer ser igual à mãe, pelo contrário, a menina sempre a critica porque deixou de estudar para se casar e ter filhos. Só no último quadro é que o leitor consegue captar a ironia e a crítica feita pela criança. É interessante notar que, nessa tira, no último quadro, a mãe de Mafalda é desenhada sem a boca. Vale lembrar que é pela boca que o ser humano se alimenta e também se expressa, sem levar em conta, é claro, a maneira possível de falar por meio de gestos ou sinais. Sem a boca a mãe da garota não poderia falar, portanto, não poderia ser ouvida. Sem boca para responder, aparentemente ela teria aceitado a ofensa e silenciado.

Nesse conjunto de tiras, aparece o ato de fala expressivo, e também o ato declarativo. No primeiro ato, Mafalda expressa seus sentimentos como, por exemplo: decepção e tristeza; pe-na/compaixão; aversão/antipatia em relação à sua mãe. E no segundo ato de fala, a personagem espera que as mulheres mudem o com-portamento, almejem um futuro melhor.

É possível perceber que nas tiras 1 e 2 houve o ato de fala i-rônico, pois a personagem ironizou ao criticar a situação feminina . A ironia aparece de modo explícito, como por exemplo, nas tiras em que a menina aprece criticando o modo como as mulheres tem agido na sociedade.

Após analisar os atos de fala nas tiras selecionadas, confirma-se que falar uma língua é realizar ações. Os enunciados possuem uma força sincera, pertinente, informativa e exuastiva no qual fazem com que as in-tenções do falante alcancem o ouvinte, para que este realize os atos de fala propostos pelo falante.